Texto de Vitor Mussumeci
Em meados do ano de 1821, quando se tornou evidente que o Brasil ia separar-se de Portugal, começaram a surgir cantos e poesias exaltando a terra brasileira e reprovando os que opunham à liberdade do país. No mês de agosto do ano seguinte a Independência era coisa certa.
E foi nesse mês que Evaristo da Veiga compôs a letra do que ele chamou de «Hino Constitucional Brasiliense», o célebre «Brava Gente Brasileira». Proclamada a Independência esse hino começou a ser cantado ao som de duas músicas diversas: uma de autoria do maestro Marcos Portugal e outra do próprio príncipe Dom Pedro. Com estas músicas milhares de bocas de São Paulo, Rio de Janeiro e de outras províncias expressavam a disposição de aceitar o desafio «Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil». Mas, embora entusiasmasse as multidões não era este ainda o hino capaz de satisfazer o ardor patriótico de nossa gente.
Exigia-se algo de mais apropriado, mais vibrante à grandiosidade do país e ao sentimento do povo que o habitava. Em 13 de abril de 1831 o Imperador Dom Pedro I abdicou à coroa em favor de seu filho Dom Pedro II. O acontecimento foi muito festejado pelo povo, eis que dava fim a um período de agitações provocadas pelo temperamento daquele monarca e vinha permitir a existência do Brasil governado por um brasileiro.
No correr das manifestações de júbilo, o ilustre musicista brasileiro Francisco Manoel da Silva, fez executar um hino cujos primeiros acordes empolgaram o coração dos assistentes.
Era este, sem dúvida alguma, no entender dos patriotas, o hino representativo da Nação Brasileira. Nele havia grandeza de inspiração, através dele honrava-se condignamente o país que é nossa Pátria. Francisco Manoel da Silva compôs a obra para ser executada por banda de música, não se preocupou com palavras para o hino.
Durante algum tempo, pelo que se sabe, foram empregadas no seu canto palavras mal adaptadas. As primeiras conhecidas, expressavam rebeldia contra a antiga metrópole portuguesa; mais tarde, usaram-se outras que entoavam louvores a Dom Pedro II.
A música foi oficializada por decreto em 20 de janeiro de 1890, 59 anos depois de composta, como Hino Nacional Brasileiro; para a letra adotou-se uma das poesias de Osório Duque Estrada.
O civismo ensina que a nenhum cidadão brasileiro cabe o direito de ignorar a música e a letra do Hino Nacional.
Hino Nacional Brasileiro I
Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante;
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o Penhor dessa igualdade,
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso
E o teu futuro espelha essa grandeza!
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu Brasil,
Ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
II
Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao Sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos têm mais flores
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores”
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
Ao lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
“Paz no futuro e glória no passado”.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta
Nem teme quem te adora à própria morte
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu Brasil,
Ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva
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